Crianças e o excesso de eletrônicos. Saiba mais sobre essa combinação

Convido vocês para uma reflexão sobre essa realidade cada vez mais comum. Em restaurantes, lojas, supermercados...lá estão elas, as crianças e suas “babás eletrônicas”!

 Hoje quero compartilhar três situações que são bons exemplos de como Ipads, celulares e tablets tem sido usados como o que se pode chamar de “babás eletrônicas”. Um menino de aproximadamente 6 anos sentado à mesa do restaurante se mantinha hipnotizado em seu jogo no tablet enquanto sua mãe, sentada ao lado, almoçava e ao mesmo tempo dava-lhe a comida na boca. Em outra mesa, a avó segurava o Ipad em frente aos olhos do netinho que, de tão pequeno, não tinha desenvolvimento psicomotor suficiente para segurar em suas mãozinhas o eletrônico, enquanto os pais conversavam durante o almoço. Na loja, um garotinho com seus 5 anos permaneceu sozinho pelo menos 30 minutos jogando no celular, enquanto os pais faziam compras.

A maioria das famílias oferece tais recursos pensando ser o melhor para as crianças. Entendem que os filhos se divertem no mundo de imagens atraentes, cheias de movimentos e cores e assim não ficam entediados, cansados ou frustrados! Que além disso o cérebro é estimulado para que sejam mais rápidas, inteligentes e aprendam melhor. Há uma boa intenção! E é genuína!

Tudo isso acontecendo sem choro, sem protestos, sem cara feia... parece tão incrível! Mas também não há risos, nem olho no olho ou curiosidade sobre o mundo, não há estórias divertidas...nem vida real!

Na vida real o bebê nasce regido pelo chamado princípio do prazer. O princípio do prazer pode ser comparado com um dispositivo interno de alerta: Opa! Algo não está bem! E embora não saiba identificar o que está causando o desconforto, chora ao sentir dor ou fome. E como chora!!! É verdadeiramente um alarme! Mas aí alguém chega...ufa!...toma os cuidados necessários e logo fica tudo bem de novo! É satisfação garantida e imediata...como nas telinhas!

Mas enquanto vai crescendo, precisa desenvolver ferramentas cognitivas e emocionais para lidar com os pequenos problemas do dia a dia. E isso só ocorre com a mediação dos adultos. As coisas não se resolvem tão rápida e magicamente como há pouco tempo atrás! Já não é mais um bebê! Chora, mas nem sempre é atendido imediatamente. O brinquedo preferido quebra e não pode mais brincar com ele. Quer um sorvete, mas agora não dá porque é hora do almoço. O bichinho de estimação morreu, não volta ao convívio. É necessário desligar a TV pois é hora do banho... parar de brincar porque é hora da janta...esperar que os pais terminem as compras antes de irem para casa...

Você quer seus filhos com autonomia, autoconfiança, maturidade, empatia.

A criança quando contrariada chora, retruca, faz birra, teima, mas algo novo e muito importante nasce a partir de agora: o princípio de realidade. Uma das mais importantes aprendizagens começam a acontecer e irão influenciá-la de alguma forma ao longo de toda sua vida. Ao interagir com o mundo real, não o das telas, lhe é dada a oportunidade de:

. Aprender a esperar
. Descobrir formas pessoais para enfrentar perdas e frustrações
. Entender que o mundo não gira só em torno dos seus desejos
. Desenvolver autonomia
. Criar soluções e tirar o foco da parte negativa do problema

Quando a criança é constantemente suprida em suas necessidades e desejos, se mantem no princípio do prazer. E como o nome sugere, vai crescendo com o pensamento mágico de que tudo que quer tem que acontecer, do jeito e na hora que quer!!! São crianças que dificilmente desenvolvem força de vontade, autoconfiança, empatia, maturidade para a vida, porque lhe foram tiradas repetidas possibilidades de entrar no princípio de realidade. A transição e o equilíbrio entre o princípio do prazer e o de realidade é o que humaniza a criança e possibilita a socialização. E isso só é possível pela mediação dos pais ou pessoas com quem tem vínculo afetivo.

A criança exposta desde muito cedo aos jogos eletrônicos, tende a ser imediatista, a ter dificuldade para esperar, para adiar o prazer, para se conectar com suas emoções.

O mundo que está aprendendo a conhecer através das telas é, no mínimo, impessoal, desconectado da percepção de si e do outro.
Criar e se emocionar são qualidades tipicamente humanas. Qual tablet, game ou celular poderá incentivar a criação de personagens próprios e estórias divertidas que arranquem gargalhadas? Que substituirá o prazer de descobrir e se encantar com um mundo em três dimensões, com cheiros, cores, movimentos, ideias, olhares, afeto e sorrisos reais?

Então, pensando em equilíbrio, os eletrônicos não precisam ser banidos, basta que ocupem seu devido lugar na vida dos filhos...e também dos pais!
Por Fátima Sgarbi - CRP 08/04114